quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Entrevista com o artísta-plástico e arte-educador Paulo Lorenzeti.



O intuito deste blog foi e é, dar voz aos invisíveis, os que estão fora da mídia burguesa e só de entretenimento. De uma certa forma Paulo Lorenzeti, bem ao modo dos surrealistas, deu a justificativa ao nome “Uma voz no invisível”, posteriormente do nome já escolhido, ao nos encaminhar um trecho de um poema de Rilke, ao celebrar a nossa iniciativa, justificou nosso nome. 

Arte educador, Paulo cita Fayga Ostrower, para compor a angústia diante deste grande desafio que é ensinar arte nas escolas. Imprescindível e necessário, mas ao mesmo tempo, ingrato, pois o arte-educador trabalha contra correntes muito conservadoras da pedagogia e preconceitos arraigados nas pessoas. A disciplina ainda é vista com um adereço na escola, de que a arte é uma coisa para escolhidos, e não para pessoas que a escolhem. Dizer que se ensina arte é falso, na medida em que a função do professor de arte é despertar no aluno a arte que já está nele, a arte que cada um carrega dentro de si, e será despertada com o contato adequado e com duro trabalho.

Paulo Lorenzeti é um destes artistas que renunciou o conforto de se trancar em um estúdio isolado do mundo, é dos que acreditam que a verdadeira democracia é a educação, e que dividir o que sabe é uma forma de construí-la. 

Para saber mais do trabalho do Paulo como educador:
e como artista plástico:


Uma voz no invisível - Qual foi seu primeiro contato com as artes plásticas e ou visuais? Quando estas artes se destacaram em seu mundo?

Paulo Lorenzeti - O meu primeiro contato talvez tenha sido com o meu pai, que sempre foi um exímio desenhista. Adorava vê-lo desenhar e aprendia com ele. Me recordo também de um livro de história sobre o Egito antigo que era do meu irmão, as imagens das esculturas , das pinturas e dos templos me fascinavam. Foi um livro que eu recortei, rabisquei, até ele deixar de existir (acho que eu internalizei, passou a existir dentro de mim). Mas acredito que a presença mais forte, consciente, foi acontecer muito tempo depois em 1997, quando eu me deparei com a capa do cd do Radiohed o “Ok computer” que é um trabalho de Stanley Donwood, daí eu pensei comigo: é isso o que quero fazer!


Uma voz no invisível - Em algum momento a escola formal (fundamental ou médio) criou em você interesse ou necessidade de fruição da arte e suas expressões?

Paulo Lorenzeti - Pra falar a verdade não. Acho que isso veio do meu pai.



Uma voz no invisível - Em que momento sentiu a necessidade de se expressar como artista plástico?

Paulo Lorenzeti - Como estava dizendo na primeira pergunta... surgiu a partir do meu encontro com o trabalho do Stanley. Mas de alguma forma eu sempre estive necessitado de fazer arte, porém no principio inconsciente, sem saber dar nome às coisas que estava fazendo ou querendo fazer. E tem uma história minha também com o meu primeiro trabalho que foi nas Linhas-Correntes, no bairro do Ipiranga , em São Paulo. Foi lá que descobri o Ribbon (uma fita para impressora de etiqueta) e com o qual eu comecei a fazer desenho e boa parte do meu trabalho é feito com essa fita. Foi a partir do meu envolvimento com este material é que decidi fazer faculdade de arte, me tornar educador/artista....e tantas outras coisas.


Uma voz no invisível - Em que momento se viu ou sentiu ou foi reconhecido como um artista plástico?

Paulo Lorenzeti - Eu sempre tive a necessidade de fazer arte, seja lá o que for. Minha produção é diária, vital... não sei, não penso nisso de reconhecimento...acho que só faço.


Uma voz no invisível - Existiu ou existe uma pessoa em especial que lhe inspirou neste caminho ou lhe incentivou de forma positiva?

Paulo Lorenzeti - Meu pai de alguma maneira, o Stanley como já havia dito... a Mai Fujimoto



Uma voz no invisível - Qual a sua formação na área de artes plásticas e ou visuais (mesmo as informais; oficinas, de pesquisa individual, autodidata ou coletiva e outros)?

Paulo Lorenzeti - Minha habilitação é em Artes plásticas (Fainc) isso no campo mais formal...
Também fiz parte de um coletivo que fez orientações com a Sandra Cinto na casa do olhar...
Mas muitas coisas que considero importante vem do encontro que tive com algumas pessoas, em especial com a Mai Fujimoto...
acho que é isso.


Uma voz no invisível - Participa de algum coletivo, grupo ou outra forma de agremiação de artistas, mesmo que não envolva a produção, mas também a mera discussão das expressões e meios de produção ou puro contato com seus pares?

Paulo Lorenzeti - Em artes plásticas no momento não. (trabalho só)

Uma voz no invisível - Existe alguma técnica em que se especializou? Faz outras experimentações?

Paulo Lorenzeti - Está minha pequena trajetória foi feita da experimentação com o Ribbon, a tal fita que descobri lá na fábrica e que depois acabou me tirando de lá...rsrsrs. Fita abençoada.

Uma voz no invisível - Destaque alguma exposição (mostra ou outros) ou exposições das quais participou, de forma individual ou coletiva, que considere importante ou fundamental (artística ou afetiva) em sua atuação.

Paulo Lorenzeti - A última exposição: “Tangências”, no paço municipal em Sto. André, foi o auge do desenho com Ribbon.

Uma voz no invisível - O que acha de subsídios oficiais para produção de artistas? Se utiliza ou já se utilizou destes recursos? O artista deve ser também um burocrata?

Paulo Lorenzeti - Não sei....acho que precisa defender o seu trabalho, mas não penso nisso.

Uma voz no invisível - Dê a sua opinião sobre o ensino de arte na escola formal e outras formas de educação.

Paulo Lorenzeti - Como respondi em alguma questão anterior ...sou um educador/artista e trabalho numa escola Estadual aqui de Mauá a Diva Gomes dos Santos (aqui vai o endereço do blog se quiserem acompanhar o trabalho por lá: www.artenaescoladivagomes.blogspot.com/), não sei .. nesse caso acho que posso falar apenas do meu trabalho, pois não conheço “efetivamente” outras realidades e sendo assim, acredito que ensinar uma coisa que não se ensina é uma tarefa no mínimo complicada...rsrs. Fico com a Fayga Ostrower: '' é difícil ser professor de arte, pois nós artistas, bem sabemos que arte não se ensina; a única coisa que é possível fazer dificílima, é ajudar os outros a formularem perguntas, suas próprias perguntas. Ao formularem as perguntas, estarão encaminhando se para as possíveis respostas”. Acho que é um pouco disso que tento fazer com as crianças em nossos encontros.


Uma voz no invisível - Quais suas influências? Algum artista ou grupo de artistas lhe serviu de inspiração para seu trabalho ou lhe incentivou a produzir arte?

Paulo Lorenzeti - Hoje:

1.jonsi and alex
2.mai fujimoto
3.Tom Zé
4.Cildo Meirelles
5.Roberto Piva
6.Joseph Beuys
7.Paulo Freire
8.Chico dos Bonecos
9.Fayga Ostrower
10.José Pacheco
11. (outros...)



Uma voz no invisível - Neste momento você tem a palavra, fale sobre, dê sua opinião ou alguma informação que não foi revelada pelas questões anteriores e que considere pertinente ou simplesmente queira dizer. Rasgue o verbo!

Paulo Lorenzeti - Eu só queria agradecer pelo espaço. Obrigado.

2 comentários:

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